terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Impressões sobre Treinamento e Escalada Esportiva

Escalo há sete anos e, ao longo de todo esse tempo, nunca me dediquei ao treinamento de escalada esportiva. Tinha a ilusão que indo para rocha todos os finais de semana era o suficiente para evoluir. Cheguei a encadenar um 7a sem treino, mas depois de milhares de entradas e de decorar todos os movimentos e agarras da via. Porém ficou nisso e o máximo que eu conseguia era escalar uns quintos e sextos graus, os mesmos de sempre perto de onde eu morava no Rio Grande do Sul. Gostava (e ainda gosto muito) de escalar vias tradicionais. Consegui viajar e escalar vias muito legais nesse estilo, mas sempre passava o maior veneno nos cruxs e ficava com muita vontade de entrar em vias lindas, mas com passadas de 6sup, 7a expostas que eu sabia que não tinha currículo pra mandar. Outra coisa muito comum era sempre que eu começava a entrar em vias um pouco mais exigentes, apareciam dores nos dedos, ombros, joelhos. A última e bem séria foi na coluna, o que me rendeu quase um ano sem escalar direito. Hoje entendo que isso é consequência da falta de preparo do corpo para um esforço muito exigente que é escalar. Demorou mas finalmente eu entendi que o que me faltava era: TREINO.
Quando me mudei para Curitiba não tinha mais desculpa de que não havia lugar e parceria para treinar. O ginásio Campo Base fica perto de onde eu moro e tem uma estrutura incrível de treinamento. Porém não me atirei que nem uma doida a subir pelos boulders e a treinar blocadas no finger board. Como estava vindo de uma lesão séria, comecei escalando e desescalando os terceiros e quarto graus de top rope, pelo menos uma vez por semana, e pilates duas vezes por semana para fortalecer a musculatura que estava parada. Levei pelo menos dois meses para me sentir peparada a realizar um treino mais intensivo. Em agosto de 2013 comecei a treinar com o acompanhamento do Roger Mendes na Campo Base. A partir daí minha visão da escalada esportiva mudou completamente. Gostei muito do estilo de orientar do Roger. Aprendi com ele a me posicionar melhor, escalar rápido quando necessário, aproveitar os descansos, leitura de vias, foco mas, principalmente, aprendi a arte de escalar gastando o mínimo de energia. E essa é a grande sacada. 
O treino inicialmente consistia em adquirir preparo e aperfeiçoar a técnica. Terça e quinta de manhã eu ia pro ginásio (30 minutos de bicicleta pra aquecer) e treinava das 07:30 às 09:00. Uma vez por semana o treino era escalando travessias de boulder ou vias de top rope. E o outro dia não tinha nada de escalada, era só fazendo força no "cantinho da alegria". Esse treino consistia em barras, flexões, exercícios no TRX, abdominais, blocadas no finger e no campus board além de alguns exercícios com pesos. Todos os exercícios bem específicos para braços, ombros, costas e abdômen, as parte do corpo mais exigidas na escalada. Na segunda e na quarta de manhã eu fazia pilates pra fortalecer a musculatura antagonista da escalada. Sexta eu reservava pra descanso. Sábado e domingo ia pra rocha escalar. E tudo isso eu tinha que conciliar com pesquisa de mestrado, aula de inglês e tarefas domésticas porque moro sozinha. 
Nas primeiras semanas me senti extremamente cansada, dolorida e com muita fome. Foi necessário mudar meus hábitos alimentares e procurar uma alimentação mais saudável e funcional, que suprisse todas as necessidades do meu corpo. Dormir bem também é essencial para a recuperação e essa foi a parte mais difícil pra mim pois eu acordava muito cedo (06h) e não conseguia ir dormir igualmente cedo. Precisei de muita disciplina para coseguir ir dormir entre as 22 e 23h. Com o tempo comecei a colher os frutos do esforço. Comecei a escalar vias entre o sexto e o sétimo grau no ginásio e na rocha. Isso pra mim foi muito gratificante, mesmo sem mandar a maioia das vias, pois sempre considerei e ainda considero a escalada no Paraná mais dura do que qualquer outro lugar. Lembro que a primeira vez que viajei ao Paraná para escalar, tinham setores onde eu não conseguia sair do chão! Não é a toa que aqui nasceram uns dos escaladores mais fortes do Brasil.
Com a evolução resolvi me presentear com uma viagem de 10 dias para um dos maiores, se não o maior, e mais alucinante pico de escalada esportiva do Brasil: a Serra do Cipó em Minas Gerais. Não contarei os detalhes da viagem aqui, pois isso é assunto para um próximo post, mas posso adiantar que os resultados foram surpreendentes para mim. Mandei no on sight sextos e quintos, um 7a in flash e saiu um 7b na segunda entrada, estou besta até agora. Antes de ir para o Cipó, passei 10 dias no Rio Grande do Sul e aproveitei para entrar nuns projetos de escalada esportiva e tradicional que eu tinha por lá. Sucesso total!
Treinamento é essencial na busca de resultados na escalada. O esforço pode parecer grande mas os resultados são muito compensatórios. Um número ou letra que aumenta na graduação pode ser motivador mas não é nada comparado com a eufórica sensação de sentir seu corpo forte e com saúde, realizando movimentos bonitos e precisos. Os limites  físicos e psicológicos sendo superados. O trabalho mental de decifrar posições e força a ser aplicada. Uma total interação com a rocha e com toda a natureza ao redor. Foi esse último motivo que me atraiu na escalada e que me mantém nela até hoje. Portanto, bora treinar que 2014 começou bem e promete muito! Kamon!!! A la muerte!!! 

2 comentários:

  1. aah Vanessa, que post inspirador ! :)
    Muito sucesso e ótimas escaladas pra ti... kamooon !
    Tu continua sendo uma das minhas ídolas!!

    "Na pressão respira, na duvida sobe o pé" o/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Luane! Muito obrigada! :)
      Desejo um ano cheio de conquistas e realizações pra ti também! E venha pro Paraná escalar!!

      Excluir